quarta-feira, 20 de junho de 2012

O guarda-roupas e a irmandade.


Boa noite, sou Wal, um adicto em busca de recuperação e estou a 60 dias sem o uso de drogas.

Depois de uma tempestade na minha vida veio a calmaria, voltei a praticar os conceitos do programa de Narcóticos Anônimos e recuperei minha serenidade, graças a Deus. Estar a beira do precipício e retornar ileso foi um grande feito, algo digno de comemoração, se não fosse tão trágico e não fosse a minha obrigação principal. Preciso sempre me lembrar que eu sou um dependente químico em tratamento e que existem algumas coisas que eu preciso evitar e outras que eu preciso procurar.

Primeiro, preciso evitar pessoas, lugares e hábitos ligados ao uso de drogas, evitar mentir, procrastinar, desonestidade, egoísmo e egocentrismo e todos os outros defeitos de caráter tão normais em seres humanos mais que foram potencializados pelo uso de drogas. Preciso parar de fumar e de sobrecarregar o meu dia, diminuir o meu ritmo e viver mais calmamente, diminuir a ansiedade e, principalmente, me cobrar menos, pois outro defeito comum do dependente químico é querer perfeição sendo que perfeito somente Deus o é.

Depois, preciso procurar ser honesto, ter a mente aberta para as coisas novas e boa vontade para mudar meus comportamentos e atitudes destrutivas, devo procurar ler mais sobre recuperação, seguir o sugerido pelo programa, ter um padrinho (e manter contato com ele, algo que eu admito que estou falhando) e crer verdadeiramente em um Deus de minha compreensão.


Essas coisas me fizeram lembrar de uma ilustração contada pelo terapeuta da clinica em que fiquei internado, que também é uma historia real:

Certa vez ficou internado lá uma pessoa que queria mudar a sua vida completamente e começou esta mudança por comprar roupas novas e comprou todo um guarda-roupa novo, desde camisas e calças até meias e cuecas, ele não queria usar mais nenhuma de suas roupas antigas. Ao chegar em casa pediu ajuda a sua esposa para retirar as coisas do carro e levar para dentro de casa. Ela o ajudou mas depois perguntou a ele o que ele queria com todas aquelas roupas. Ele prontamente respondeu que seria um novo homem e que pra marcar isso usaria apenas roupas novas.

Sua esposa, calmamente lhe falou que ali não tinha espaço para aquelas roupas. Ele contrariado esbravejou como assim não tem lugar para as minhas roupas, por acaso esta me mandando embora de casa? Ela ainda calmamente respondeu que não era isso, mas que o guarda-roupa dele estava lotado de coisas, de maneira que primeiramente ele tinha que fazer uma limpeza e jogar fora o que não prestava e doar as outras coisas que estavam boas mas que ele não queria mais usar.Assim ele o fez, limpou o guarda-roupa, jogou diversas roupas fora e doou outras, feito isso apareceu o espaço para colocar as roupas novas e fazer o que ele se propôs a fazer inicialmente. 

Moral da história: Não adianta querer colocar tudo que eu estou aprendendo dentro de mim se antes eu não fizer uma faxina na minha vida e jogar fora tudo que não presta primeiro, não cabem as duas coisas no meu coração.

Eu fiquei dias meditando nisso até compreender exatamente esta mensagem e conseguir começar a por em pratica na minha vida. É sempre difícil identificar o meu auto-engano sozinho, se não fossem pelas pessoas mais próximas a mim com toda a certeza eu teria voltado a usar, não pela vontade, porque vontade vem e passa e nunca ninguém morreu de vontade, mas sim porque eu teria recaído em meus comportamentos a um ponto que eu irremediavelmente usaria drogas. Portanto essa faxina na minha vida é a busca da remoção de meus defeitos de caráter e trocar o espaço aberto por qualidades que eu já possuía mas que não conseguia identificar.

Um exemplo disso é o meu prazer em servir. Hoje cheguei tarde em casa porque fui levar a mensagem de Narcóticos Anônimos a uma empresa e me senti gratificado e edificado por praticar algo gratuitamente em favor de N.A., afinal a irmandade salva a minha vida através dos 12 Passos. Me sinto bem quando sirvo o café, varro a sala, recebo o recém-chegado, leio e partilho a literatura, faço uma tradição ou qualquer outro serviço dentro de N.A. Antes, provavelmente meu egoísmo não deixaria que eu tivesse a iniciativa de me dispor para falar que existe um lugar que salva vidas e esse lugar se chama Narcóticos Anônimos. Provavelmente eu estaria discriminando aqueles que hoje são meus companheiros falando que eles são os "nóias" e eu sou o bom, sendo que todos nós estávamos no mesmo barco chamado adicção.

Graças a Deus e muito pouco de minha boa-vontade hoje eu enxergo que eu sou o problema e que a principal pessoa de ativa e principal lugar de ativa era eu mesmo e, por essa e outras, eu sou adicto e só por hoje não vou usar nenhuma droga que altere o meu humor, se só por hoje for muito serão só por 5 minutos e por ai vai, o importante é que só por hoje em só por hoje já se passaram 59 dias, algo inimaginável para mim antes disso pois não consegui passar sequer algumas horas sem.


Bem, por hoje é só, continuem comentando para que eu saiba se estou seguindo um bom caminho. Boa noite.

terça-feira, 19 de junho de 2012

A estrada e o açucar.


Bom dia, sou Wal, sou um adicto e estou a 58 dias sem o uso de drogas.

Estou em um momento bastante reflexivo neste começo de recuperação. Os fatos que vem acontecendo nos ultimos dias estão me fazendo enxergar os meus defeitos de caráter que, em outros tempos, eu negaria que existisse.

Ontem foi um exemplo claro disso, fiz aniversário de casamento ontem e em minha luta por recuperação esqueci de parabenizar minha esposa por essa data tão importante para nós. A noite quando conversamos percebi o choro dela e vi o quão egoísta eu havia sido, só pensei em mim e esqueci daquela que eu tanto amo.

Não me senti bem por isso, da mesma maneira que não me senti bem ao descobriri que eu sou um mentiroso conpulsivo, procrastinador, preguiçoso, egocentrico, megalomaniaco, racionalizador, enfim, sou a lista de evite de N.A. inteira e estes são os meus defeitos de caráter.

Agora o que eu vou fazer com eles, aprendi que da mesma forma que demorei anos para achar o fundo do poço também demorarei anos para sair do lamaçal de sentimentos que eu tenho dentro de mim. Ontem, em uma sessão de terapia em grupo na clinica em que fiquei internado vi um video com uma ilustração do primeiro passo mostrando meus pensamentos como uma estrada que eu sou o dono e vigilante, agora se eu faço dela um caminho reto ou tortuoso com muitas bifucações é outra historia. O importante é que o caminho sou eu quem faço e esse caminho pode ser bom ou ruim, tudo depende de mim mesmo.

Assim, meus defeitos de caráter tem poder sbre mim apenas se eu deixar que eles se manifestem, aprendi que as vezes eles vão escapar, afinal sou humano e não consigo ser perfeito, portanto ao mesmo tempo que tenho que ser uma pessoa melhor tenho que me levar menos a sério pois minhas imperfeições não sumirão do dia para a noite.

Em relação a minha esposa, ontem foi dia de grupo de co-dependentes na clinica e ela participou, talvez por isso o drama de meu esquecimento tenha sido minimizado. Conversei com ela e tentei explicar que nesse momento acredito que o melhor presente de casamento que eu poderia dar para ela era estar em recuperação, pois eu fico bem e, consequentemente, nosso casamento fica melhor ainda, afinal, se melhorar melhora.


Voltando à clinica, uma outra ilustração do video só reforçou o quanto Deus é importante na minha vida, apesar de eu não ve-lo eu posso sentir a sua presença seja nos dias bons ou nos dias ruins. Afinal pense, quando eu vou tomar o meu café uso açucar para adoçá-lo, que se dissolve no café e deixa ele doce; ninguém ve o açucar lá, mas sente a sua presença pelo sabor, afinal se eu tomasse o café sem açucar o gosto seria amargo. Da mesma forma, Deus é como o açucar de nossa vida, eu não o vejo mas o sinto nas coisas doces da vida, sem a presença dele a vida é amarga. Pense nisso e veja como nos dias bons ele adoça mais e nos dias ruins eu quero tomar as coisas sem açucar mas sempre há um gostinho doce no ar, basta parar e meditar no Senhor.

Obrigado a todos que lerem este post, continuem comentando pois edifica a minha recuperação.